"Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona para festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra? Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito. Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos. Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contraído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos. Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos. Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta. Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país. Um amigo não dá carona apenas para festa. Te leva para o mundo dele, e topa conhecer o teu. Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon. Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado. Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura um confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador. Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém !"
Pois é, amizade. Acho que a melhor coisa que um ser humano pode querer e cultivar.
Aprendi nesses últimos anos (principalmente no último) a perceber quem realmente é meu amigo, e quem é apenas um colega e principalmente: Quem apenas convive no mesmo ambiente que eu.
Acho que dependo extremamente dos meus amigos. Me peguei pensando nesses dias o que eu faria sem eles. Mesmo estando longe, se vendo apenas de seis em seis meses, eles sempre encontram tempo para responder mensagens no orkut, e-mails, quando preciso de algo tenho certeza que vão me ajudar. E a recíproca é totalmente verdadeira.
Quando sai do Ensino Fundamental, pensei que ia perder contado, continuei amiga apenas de uma pessoa, que me apresentou mais pessoas, que se tornarma meus amigos.
Entrei na faculdade, conheci muitas pessoas, pensei que tinha muitos amigos, mas acabei descobrindo que tenho na verdade apenas três. E percebi isso quando mais precisei deles. Quando ficaram do meu lado mesmo todo mundo me dando as costas. Às vezes eu penso que acabei expondo eles demais (involuntariamente as always), mas eles sabem o que fazem.
Agora estou terminando a faculdade e me pego no mesmo dilema: E agora? O que eu faço? Não quero perder contato com meus amigos, não quero ficar longe deles.
Afinal de contas não é só em receber ajuda para mim que eu penso nisso, eu me preocupo com eles. Posso ser a pessoa mais mala do mundo, aquela que quando vê alguém triste fala o maior absurdo do mundo, ou o conselho mais esdrúxulo do mundo do tipo "Eu já não te disse que a vida é essa merda mesmo? Relaxa".
Detesto brigar com eles, ver eles tristes, me preocupo pacas.
Mas e no ano que vem? O que eu faço? Eu sei que novos amigos sempre surgem, mas eu gosto desses antigos.
Sabe aqueles momentos da vida onde você é obrigado a crescer e não sabe o que faz? Pois é...
