segunda-feira, 28 de junho de 2010

Quando tudo parece dar errado

Já que não consigo ver filmes atuais (leia-se lançamentos), vou tentando me atualizar à medida que o Telecine permite que eu faça isso. Esse final de semana assisti dois filmes. Um, o horrível Guerra ao Terror nem vale a pena ser comentado.
Aliás, se alguém quiser “ver mais do mesmo” pode assistir a esse filme. Aliás, mais um filme de guerra (?) que mostra os americanos como coitadinhos em uma guerra que eles mesmos provocaram. Viram algum sentido nisso? Não, e nem tentem, pois não há. E eu que achei que a mediocridade americana de se fazerem de coitadinhos na guerra havia parado no desastre do Vietnã.

Voltando.

O outro filme se chama A Vida Secreta das Abelhas, de 2008. (E sim, esse também é um filme do estilo “mais do mesmo”, mas todos os filmes são). E, ao contrário do que eu imaginei quando li o título, não é uma animação, muito menos um filme infantil. Muito pelo contrário; ao que eu me lembro, esse é o primeiro papel em que vejo Dakota Fanning interpretando uma adulta, e não mais uma criança como ela sempre fez.
E o filme fala justamente disso, de amadurecimento, crescimento, encarar as dificuldades e perceber que a vida não é cor-de-rosa. Um filme que pode muito bem ser rotulado como sendo do gênero “água com açúcar”. Apesar de andar meio longe desse estilo, esse filme me instigou.

Na trama, Fanning vive Lily, uma menina com uma vida difícil. Aos quatro anos, por sua culpa, sua mãe morreu. Dez anos depois ela vive com o pai abusivo (Paul Bettany, ótimo), rancoroso pela morte da esposa, e a empregada negra Rosaleen. O ano é 1964 e a luta pelos direitos civis dos negros está em um de seus mais tensos momentos. Um acontecimento dramático, porém, leva ambas a fugir de casa em direção ao apiário da Nossa Senhora Negra: uma imagem gravada em uma caixinha da mãe de Lili. Lá conhecem August Boatright (Queen Latifah) e suas irmãs, June (Alicia Keyes) e May (Sophie Okonedo), que fazem o melhor mel da Carolina do Sul - e mudam a vida das duas para sempre. Fonte: Omelete.

Até aí, nenhuma novidade. Mais um filme como tantos outros que já foram produzidos. E porque eu o achei diferente. Simples, ele mostra uma pequena realidade que todos nós vivemos (ou viveremos) um dia. O de pensar que não nos encaixamos no mundo, de pensar que tudo o que tocamos vira pó e se desfaz.
A protagonista do filme deixa isso muito claro. O desejo dela de fazer as coisas corretas é inversamente proporcional as coisas boas que acontecem ao seu redor. É a velha teoria: quanto mais se tenta agir corretamente, consertar tudo, mais as coisas se quebram e saem dos eixos.
Aliás, a diretoria do longa-metragem poderia muito bem deixar de maquiar tanto a realidade; o filme é carregado de um eufemismo exagerado e sem nexo. Quando eu vi, pensei em algo mais realista e não tanto Hollywoodiano como foi retratado. A maquiagem só serve para disfarçar, esconder imperfeições que ninguém quer ver. Ponto novamente para a Sociedade do Espetáculo; já que é isso que as pessoas querem ver, vamos lá.
Mas não é Lily e sua busca por se encaixar no mundo que mais me chamaram a atenção. Na verdade há uma personagem mais forte de todo esse filme, sem ser a pobre menina. A minha personagem preferida na trama é May, espetacularmente interpretada por Sophie Okonedo. Aliás, as três irmãs (que eram 4) tem nomes provenientes do calendário justamente porque sua mãe gostava da primavera e do verão.
May tinha uma irmã gêmea, April que faleceu quando ainda eram crianças. Desde então May parece que divide as angústias do mundo com todo mundo. Ela sente e sofre todo sentimento mal que está perto dela. É como se ela carregasse o fardo do mundo.
E quem nunca se sentiu dessa maneira? Carregando o fardo dos outros, vivendo problemas que não lhe dizem respeito; sofrendo por coisas inevitáveis e também por aquelas que todos nós já sabemos no que vai resultar.
Essa mistura entre Lily e May é o que mais me intriga no filme. Todo mundo quer se encaixar, perceber que não está só, e que também não é culpado por tudo. Todo mundo carrega uma dor que não é sua, mas que precisa carregar para aliviar outra pessoa – mesmo que essa pessoa pouco se importe com você, ou nem se dê conta da sua presença.
E o principal: Todo mundo quer ser amado, quer ter a sensação de que não é culpado por todos os problemas do mundo. Que não está sozinho e que tem alguém ali que realmente se importa com você.
Dentre tudo o que é retratado no filme, essa última parte ainda é a mais complicada: Complicada de entender e de se achar. Porque quando tudo parece dar errado, é o momento que você se sente mais sozinho, sente que só faz coisa errada e que não há ninguém disposto a cuidar de você e dizer que isso tudo vai passar.

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