domingo, 6 de junho de 2010

Síndrome do Patinho Feio

Vou fazer uma confissão. Eu tenho a síndrome do Patinho Feio – ok, eu e mais trezentas mil pessoas. Foi difícil admitir isso, mas é a mais pura verdade. No fundo acho que todo mundo sofre um pouco desse mal; assim como sofre com outras síndromes; uns com mais, outros com menos intensidade.
Geralmente essa síndrome ataca quem terminou um relacionamento duradouro – o que não é o meu caso, mas, para variar um pouco, eu tinha que ser uma das exceções da regra. Não importa o que as pessoas façam, digam ou demonstrem, você sempre vai se achar a pior pessoa do mundo, a mais feia e a que não merece um pingo de atenção.
É exatamente igual à história do Patinho Feio. Aliás, tenho a impressão de que essa história foi criada por alguém que se sentia um patinho feio, não é possível achar tanta semelhança assim entre uma história e a vida real.
Quem nunca acordou um dia e teve vontade de colocar um saco de papel na cabeça para quem ninguém visse a sua cara? Isso acontece com tudo mundo. A diferença é que sempre passa. É o famoso: “Acordei com o pé esquerdo” ou o “não devia ter saído da cama hoje”.
Não adianta. Tem dias que a pessoa acorda Patinho Feio e vai dormir Patinho Feio. Não adianta se arrumar, ser paquerada, dizerem que está linda e sair arrasando corações. A pessoa sempre vai se achar um lixo, um traste, feia e horrorosa. E não adianta, não é culpa da TPM não.
Outras vezes é devido “Às vezes, a timidez é causada por um sentimento de inferioridade, que surge devido a um defeito físico real ou imaginário e leva à insegurança diante das outras pessoas.” (via Blog Insônia).
Nós imaginamos que temos algo aterrorizante, que ninguém é capaz de gostar de nós ou fazer um elogio sincero. Eu particularmente tenho um sério problema em aceitar elogios.
Quem me conhece sabe. Nunca acho que algo que eu fiz é bom o bastante ao ponto de ser elogiado. Não me chamem de perfeccionista. Apenas tenho problemas em aceitar elogios. E não adianta dizer que quero confete; isso só vai piorar a situação; vai me fazer sentir como se eu fosse uma coitadinha. Ou seja, não tente ajudar com isso, você acaba atrapalhando.
E quando o elogio diz respeito à aparência? Aí meu nível de síndrome do Patinho Feio alcança números exorbitantes. Não adianta insistir. Não me acho bonita – no máximo razoável - não me acho interessante, nem acho que alguém deva perder seu tempo comigo.
Para se ter uma ideia de onde isso surgiu, vou contar um fato que aconteceu no colegial. Um belo dia, entrando para a aula um grupo de meninos que fazia técnico em eletrônica começou a me chamar de Betty, A Feira (sim, alusão à famosa série americana). Pronto, preciso dizer mais alguma coisa? Para alguém com 16 anos, passando pelas inseguranças da adolescência, isso foi a gota que fez a síndrome do Patinho Feio se instalar e ficar sendo minha companheira.
Para alguém que sofre com baixa auto-estima ficar sendo chamada assim não ajudou em nada a minha síndrome do Patinho Feio. Só serviu para eu ter a certeza de que realmente não merecia um elogio, que não fosse aquele.
Do que eu era, melhorei muito. Hoje brinco, levo numa boa quando alguém me faz um elogio digno de me deixar para baixo. Encaro melhor um: “feia você, né?!” do que um: “uau, como você está bonita hoje!”. Aliás, ainda me assusto como as pessoas ainda usam a aparência para xingar, atingir os outros.
Não sei, acho que me acostumei tanto a ouvir desaforo que os elogios ainda me soam como algo estranho, como se alguém sempre estivesse tirando sarro de mim. Sabe aquela migalha que jogam a alguém só por dó ou piedade? Pois é, sempre encaro um elogio dessa maneira.
Quem sabe um dia eu faça igual ao Patinho Feio e perceba que isso nada mais é do que coisas da minha cabeça; que eu posso sim aceitar um elogio sem ter medo de que a pessoa esteja caçoando de mim.
Mas, enquanto esse dia não chega, vou convivendo com a minha síndrome do Patinho Feio. Afinal, nem todo mundo consegue se sentir bem todos os dias. Ou consegue?

2 comentários:

Francisco Ditano disse...

Lembre-se... Quando ele cresce, vira um belo Cisne. Enquanto todos os outros que caçoavam dele, continuam sendo meros 'patos bonitinhos'.

Wagner disse...

Não sei... talvez seja engano, mas eu te vejo muito bonita e interessante. Acho que você devia superar essa sindrome. =D

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