terça-feira, 15 de setembro de 2009

Cabeça oca

Todo mundo sempre reclama de ter que ir para a escola, seja em que fase for da vida: ensino fundamental, médio ou superior. Parece uma tortura ter que se deslocar de casa, cansado e aguentar as aulas do dia, fazer os trabalhos, ler os livros... Enfim, toda a rotina de estudante.
Vamos citar aqui especificamente a faculdade.
E quando acaba é aquele alivio. Alegria que não acaba mais. Já começa a fazer planos para o tempo livre que vai ter, esconde todo o material, joga de lado qualquer ideia de quem um dia cursou uma faculdade.
O primeiro mês é mais do que emocionante essa sensação. Vai assistir a todos os filmes, séries, colocar o sono em dia. Fazer tudo aquilo que a faculdade não deixava. Lembrava que tal hora ia estar na aula de teoria nãoseidoque.
O segundo mês ainda é uma sensação boa. Começa a achar coisas novas para ler, pessoas novas para conversar na net. Tira a poeira do Orkut, blog. Até cria coragem e se arrisca no Twitter.
O terceiro mês a coisa já começa a esfriar e você se pega jogando em sites que tem jogos em flash e conversando com quem em sã consciência nunca conversaria. Começa a ler tudo o que aparece pela frente e começa a vomitar opinião sobre tudo ou sobre todos. Tentando ainda inutilmente fazer de conta que está em um círculo de intelectuais.
A partir do quarto mês o bicho pega; e quando eu falo em pegar, eu digo pegar para valer. O tédio bate e trás consigo o mais temido de todos os sentimentos, o desespero. O cérebro começa a atrofiar e a falta de ter o que fazer começa a consumir você mesmo que lute contra. Chega até uma hora que você quase sente o eco dos pensamentos de tanto que a cabeça está oca. Até o Tico e o Teço já saíram de férias ou estão em estado alcoólico ou de coma e não respondem mais com a mesma rapidez de outrora.
E por incrível que pareça você sente vontade de voltar a estudar. Vontade não, quase se obriga a voltar a estudar nem que seja para aprender turco ou latim. A rotina de quase 20 anos de estudo criou um hábito em qualquer um. Não se consegue mais ficar parado. O faniquito é tanto que é impossível ficar longe dessa vida.
É um vício. Estudar decididamente é um vício do qual eu ainda não achei cura – e sinceramente, não sei se quero achar. Nunca em meus quase ¼ de século eu fiquei sem estudar. Este é o primeiro ano sem preocupações com o vestibular, cursinho, livros, trabalhos, seminários e afins. A felicidade de dormir cedo durou acho que uns três meses.
O trabalho cansa, mas mesmo assim o vício do estudo persiste. E é inegável que se eu não voltar a estudar ano que vem, nem que seja para terminar meu curso de inglês e começar outro idioma eu sentirei minha cabeça ficar desesperadamente mais leve a cada dia.
Tenho medo que essa escassez de estudo acabe com todo o conhecimento acumulado. Como se todo o aprendizado se evaporasse quando não usado. Será que algum dia esse vício do estudo acaba? Ou ele é como o vício que eu adquiri da leitura, só cresce a cada dia que passa, como se o livro fosse um produto vital para a sobrevivência.
E a falta da faculdade não se dá apenas pelo fato do estudo e todo o trabalho resultante dele. Conhecer pessoas, ter contato com gente diferente que tem história para contar é o melhor disso. As teorias mais malucas da minha vida foram feitas dentro de uma van, com mais 10 pessoas igualmente loucas – isso inclui o motorista.
A falta disso é tanta que eu estou pensando seriamente em qual loucura vou me meter ano que vem. E é claro que vai ser só me matricular em algum curso para começar toda a ladainha outra vez: reclamação do grupo que não faz trabalho, dos professores, dos colegas de sala, do excesso de trabalhos. E por aí vai... e vai longe!
Acho que nós somos sado masoquista. No fundo adoramos esse sofrimento. É, ou não é?

Um comentário:

Anamyself disse...

Trocaria FÁCIL minha vida de adulta trabalhadora pela vida de adolescente estudante.

Eu reclamie BASTANTE da faculdade, e 9 meses depois de formada, não sinto falta. Ontem passei na frente da faculdade no horário de saída da galera. Estava com uma amiga que estudou lá comigo. A gente se olhou e soltou um: "Aff. Credo. Ainda bem que acabou". Hahaha

Mas concordo: estudar é para toda a vida. E não digo estudar na graduação, pós... Mas estar sempre lendo, produzindo, aprendendo novos idiomas...

Se joga no curso de inglês, menina!

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Sobre o comentário lá no meu blog:
também sou pró-namoro entre primos. Tenho alguns amigos cujos pais são primos em primeiro grau. Duro é lidar com a família, como você mesma disse! hehe

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